Diante da ineficiência do Governo Federal nas negociações para a solução do impasse com a Argentina, que já acumula 700 mil pares de calçados vendidos e impedidos de entrar naquele país por conta do protecionismo do governo de Cristina Kirchner, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) promoveu um encontro com lideranças políticas do Rio Grande do Sul para discutir os próximos passos. O evento aconteceu na sede da entidade calçadista, em Novo Hamburgo/RS, na manhã desta sexta-feira (22), e contou com as presenças dos deputados estaduais Lucas Redecker (PSDB) e João Fischer (PP), da prefeita de Sapiranga, Corinha Molling, de vereadores da região, representantes dos trabalhadores e empresários.

O anfitrião do encontro, presidente-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, ressaltou que é preciso sensibilizar a sociedade para o problema. “Já fomos à Brasília, entregamos carta à presidente em evento aqui em Novo Hamburgo, a ACI teve encontro com o vice-presidente Michel Temer e participamos ativamente do debate, mas a resolução não aparece”, disse. Com as portas fechadas do gabinete da presidente Dilma Rousseff, que havia prometido uma audiência em Brasília no mais recente encontro com os calçadistas, o executivo aponta que o caminho é explicar para a sociedade, fazer com que todos saibam do impasse e os seus reflexos nas comunidades através da perda dos empregos.

Mudança de tom

O tom ficou mais agressivo diante da passividade do Governo Federal. Os deputados estaduais presentes reiteraram a disposição de atuar junto aos governos federal e estadual para a solução do impasse. “A política é feita com pressão e é isso que vamos fazer”, destacou Redecker. O parlamentar também recordou que há dois anos um grupo de deputados estaduais gaúchos foi até a Argentina para tentar resolver o impasse. “Eles nos receberam com surpresa e disseram que nunca haviam recebido contato do governo brasileiro”, afirmou.

O diretor financeiro da Calçados Bibi, de Parobé, Rosnei Alfredo da Silva, destacou a dificuldade de caixa da Argentina, motivo alegado pelos “hermanos” para o protecionismo. Por outro lado, os entraves não têm sido os mesmos para calçados de outros países, como a China, por exemplo, que tem aumentado seus embarques para lá. Segundo ele, o caso é ainda mais grave do que os pares represados sugerem. “Não temos a repetição dos pedidos. Além do mais, já perdemos a oportunidade do Natal visto o adiantado do ano. Em 2011, quando o Brasil retaliou a importações de carros da Argentina, a reação foi imediata. Por que o governo brasileiro não faz novamente?”, disse Silva, acrescentando que o caso é muito grave. “Estou conversando com empresários que estão modificando o planejando férias e demissões por conta das perdas dos pedidos”, concluiu. Redecker emendou que “retaliação, infelizmente é a única linguagem que o governo argentino conhece”.

Força conjunta

No final da reunião, os vereadores presentes, empresários e representantes dos trabalhadores se prontificaram em ajudar na disseminação do tema nas suas comunidades e círculos sociais para a sensibilização da sociedade.

Visando intensificar este debate, a Abicalçados promoverá, no próximo dia 28 de novembro, na sede da entidade (rua Julio de Castilhos, 561. Centro. Novo Hamburgo), uma coletiva para a imprensa da região. Participa o presidente-executivo da entidade, Heitor Klein.

Entenda

O governo argentino instituiu, em 2012, a necessidade da Declaração Juramentada Antecipada de Importação (DJAI), burocracia que obriga o exportador declare suas intenções de investimento em solo argentino através da política informal do uno por uno (para cada dólar importado um deve ser investido no País). Na prática, a política visa, através de uma manobra protecionista, equilibrar a balança comercial argentina. Alguns calçados brasileiros aguardam liberação desde julho, enquanto o prazo máximo da Organização Mundial do Comércio (OMC) para liberação é 60 dias.

* Com informações da Abicalçados